Vivemos em um mundo globalizado. Informações nos chegam através dos mais variados meios de comunicação em massa: a televisão, o rádio, a imprensa escrita – jornais e revistas – e mais recentemente através da Internet, instrumento pelo qual conseguimos acessar a qualquer momento, qualquer tipo de conteúdo, qualquer assunto, em segundos.
Nos orgulhamos do nosso mundo globalizado, online. Hoje a informação é considerada como o maior capital que uma pessoa ou uma empresa deve dispor para obter sucesso em sua vida profissional e pessoal. Ter o domínio sobre as informações e sobre o que acontece à nossa volta é o que faz com que não sejamos excluídos dos nossos círculos de relacionamentos, profissionais, sociais, e etc...
Mas é claro que para obter um lugar nessa “aldeia global”, se paga um preço muito alto e muitas vezes desnecessário. Vivemos para conquistar status, ao invés de vivermos por qualidade de vida. Trabalha-se dia e noite, muitas vezes por um salário baixo em um trabalho nem de longe gratificante. Para chegar ao trabalho então, é necessário para a maioria da massa trabalhadora atravessar grandes trajetos congestionados de veículos individuais - para os “pobres”, o ônibus, caro e de péssima qualidade; para a “classe média”, “ricos” e “muito ricos”, seus carros importados de alta velocidade que, por conta do modelo viário existente nas grandes cidades, não ultrapassam os 30km/h.
Quando não se está preso ao trabalho, demandas que cumpram com nossa sede de consumo surgem, como resposta natural, seja pela necessidade de realização pessoal, no caso dos mais abastados - trocar o carro, comprar outro apartamento; o desejo àquela tv 50 pol., a casa de praia que todos os amigos já tem menos você; a viagem dos filhos pra Disney e etc – seja, para os menos favorecidos - o “bico” na oficina do colega, a faxina da noite em mais uma casa, embora a resposta natural do consumismo não reconheça classe social.
Mesmo tarefas cotidianas que muitas vezes dizemos não dispor de tempo, nos trazem satisfação, pois cumprem com a obrigação e o orgulho do sustento do lar, como por exemplo, fazer compras no supermercado. Isso mesmo! Fazer compras! Aliás, não mais em supermercados, mas em hipermercados! Verdadeiros “shoppings da família” onde encontramos tudo de que “precisamos”. Desde a comida do mês, aos acessórios do carro, dos brinquedos e porcarias comestíveis das crianças, aos mais avançados eletroeletrônicos, além de todo o tipo de promoção dos mais variados produtos. Logicamente isso acontece pois a intenção do estabelecimento é sempre e somente “servir ao cliente”.
E foi em um desses hipermercados – pois afinal também tenho minhas necessidades naturais de consumo! - que presenciei uma cena incomum: Estava na fila do “caixa rápido” (que demora o mesmo tempo do caixa normal) quando um grupo de três senhoras ficou espantado e curioso por ver um pássaro que, por azar, estava preso àquela imensa estrutura metálica do teto do local. Com a agitação, mais pessoas começaram a perguntar onde estava a tal ave, pois todos queriam observá-la. E começou um verdadeiro debate. As pessoas discutiram qual pássaro seria aquele, um beija-flor, um pardal, um bem-te-vi? E eis que veio a resposta, não pelo acerto de alguém, mas por que a ave soltou um enorme “bem-te-vi”!. O grupo de curiosos começou a sorrir, uns afirmando que haviam acertado, outros dizendo que já sabiam, e alguns lamentando seu erro.
Fiquei observando aquelas pessoas, todos adultos. A alegria e a satisfação que aquele pequeno pássaro proporcionou ao cotidiano daquelas pessoas, foi impressionante. De certo, cada um por um motivo diferente, todos se alegraram com o acontecido, talvez por lembrar da juventude em uma cidade pequena, ou por ser a primeira vez que via um bem-te-vi.
Porém, após aquele momento de diversão quase que infantil, onde as lembranças e memórias individuais daqueles observadores os transportaram do hipermercado para uma pracinha qualquer, um bosque ou uma pequena rua de bairro, a alegria de cada um chegou ao fim, pois o pássaro se foi e todos tomaram seu lugar na fila, virados pra frente e “voltaram ao normal”. O normal do cotidiano. Do cotidiano das grandes cidades.
Esse fato, sem significado e importância para alguns, me atentou para uma reflexão:
O questionamento quanto à real importância desse mundo globalizado, face às verdadeiras necessidades naturais do ser humano. Necessidades, de viver, de conviver, de ter um trabalho digno - e não um emprego entediante -, de ter horas de descanso, de mergulhar em um lago ou no mar, de ler um livro, de ter uma praça para sentar embaixo de uma árvore, de namorar e dar valor à família, de ter tempo para os filhos, de se dedicar à espiritualidade, e até mesmo de apenas observar um bem-te-vi.
Estamos cegos, reféns desse modo de vida, tipicamente ocidental, globalizado e para muitos imposto.
Imediatismo, simplismo, consumismo, conformismo e individualismo.
A sociedade está cada vez mais sem perspectivas, sem horizontes, sem rumo. Somos uma sociedade carente de atenção e de carinho, de apoio e motivação, carentes de uma conversa sincera e de um abraço, carentes da nossa própria natureza.
Estamos carentes de um simples bem-te-vi.
Nos orgulhamos do nosso mundo globalizado, online. Hoje a informação é considerada como o maior capital que uma pessoa ou uma empresa deve dispor para obter sucesso em sua vida profissional e pessoal. Ter o domínio sobre as informações e sobre o que acontece à nossa volta é o que faz com que não sejamos excluídos dos nossos círculos de relacionamentos, profissionais, sociais, e etc...
Mas é claro que para obter um lugar nessa “aldeia global”, se paga um preço muito alto e muitas vezes desnecessário. Vivemos para conquistar status, ao invés de vivermos por qualidade de vida. Trabalha-se dia e noite, muitas vezes por um salário baixo em um trabalho nem de longe gratificante. Para chegar ao trabalho então, é necessário para a maioria da massa trabalhadora atravessar grandes trajetos congestionados de veículos individuais - para os “pobres”, o ônibus, caro e de péssima qualidade; para a “classe média”, “ricos” e “muito ricos”, seus carros importados de alta velocidade que, por conta do modelo viário existente nas grandes cidades, não ultrapassam os 30km/h.
Quando não se está preso ao trabalho, demandas que cumpram com nossa sede de consumo surgem, como resposta natural, seja pela necessidade de realização pessoal, no caso dos mais abastados - trocar o carro, comprar outro apartamento; o desejo àquela tv 50 pol., a casa de praia que todos os amigos já tem menos você; a viagem dos filhos pra Disney e etc – seja, para os menos favorecidos - o “bico” na oficina do colega, a faxina da noite em mais uma casa, embora a resposta natural do consumismo não reconheça classe social.
Mesmo tarefas cotidianas que muitas vezes dizemos não dispor de tempo, nos trazem satisfação, pois cumprem com a obrigação e o orgulho do sustento do lar, como por exemplo, fazer compras no supermercado. Isso mesmo! Fazer compras! Aliás, não mais em supermercados, mas em hipermercados! Verdadeiros “shoppings da família” onde encontramos tudo de que “precisamos”. Desde a comida do mês, aos acessórios do carro, dos brinquedos e porcarias comestíveis das crianças, aos mais avançados eletroeletrônicos, além de todo o tipo de promoção dos mais variados produtos. Logicamente isso acontece pois a intenção do estabelecimento é sempre e somente “servir ao cliente”.
E foi em um desses hipermercados – pois afinal também tenho minhas necessidades naturais de consumo! - que presenciei uma cena incomum: Estava na fila do “caixa rápido” (que demora o mesmo tempo do caixa normal) quando um grupo de três senhoras ficou espantado e curioso por ver um pássaro que, por azar, estava preso àquela imensa estrutura metálica do teto do local. Com a agitação, mais pessoas começaram a perguntar onde estava a tal ave, pois todos queriam observá-la. E começou um verdadeiro debate. As pessoas discutiram qual pássaro seria aquele, um beija-flor, um pardal, um bem-te-vi? E eis que veio a resposta, não pelo acerto de alguém, mas por que a ave soltou um enorme “bem-te-vi”!. O grupo de curiosos começou a sorrir, uns afirmando que haviam acertado, outros dizendo que já sabiam, e alguns lamentando seu erro.
Fiquei observando aquelas pessoas, todos adultos. A alegria e a satisfação que aquele pequeno pássaro proporcionou ao cotidiano daquelas pessoas, foi impressionante. De certo, cada um por um motivo diferente, todos se alegraram com o acontecido, talvez por lembrar da juventude em uma cidade pequena, ou por ser a primeira vez que via um bem-te-vi.
Porém, após aquele momento de diversão quase que infantil, onde as lembranças e memórias individuais daqueles observadores os transportaram do hipermercado para uma pracinha qualquer, um bosque ou uma pequena rua de bairro, a alegria de cada um chegou ao fim, pois o pássaro se foi e todos tomaram seu lugar na fila, virados pra frente e “voltaram ao normal”. O normal do cotidiano. Do cotidiano das grandes cidades.
Esse fato, sem significado e importância para alguns, me atentou para uma reflexão:
O questionamento quanto à real importância desse mundo globalizado, face às verdadeiras necessidades naturais do ser humano. Necessidades, de viver, de conviver, de ter um trabalho digno - e não um emprego entediante -, de ter horas de descanso, de mergulhar em um lago ou no mar, de ler um livro, de ter uma praça para sentar embaixo de uma árvore, de namorar e dar valor à família, de ter tempo para os filhos, de se dedicar à espiritualidade, e até mesmo de apenas observar um bem-te-vi.
Estamos cegos, reféns desse modo de vida, tipicamente ocidental, globalizado e para muitos imposto.
Imediatismo, simplismo, consumismo, conformismo e individualismo.
A sociedade está cada vez mais sem perspectivas, sem horizontes, sem rumo. Somos uma sociedade carente de atenção e de carinho, de apoio e motivação, carentes de uma conversa sincera e de um abraço, carentes da nossa própria natureza.
Estamos carentes de um simples bem-te-vi.
Texto elaborado em 19 de junho de 2004