A CARÊNCIA DE ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER NAS CIDADES
As cidades brasileiras passam hoje por uma grave crise urbana. Vemos diariamente notícias dos problemas enfrentados por comunidades e bairros inteiros que vivem sem condições de habitabilidade, que sofrem com as enchentes, com a falta de saneamento básico, de iluminação pública, deslizamentos de morros e etc...
Hoje, mais de 90% das cidades com mais de 500 mil habitantes possuem assentamentos precários.
Essa crise é resultado de décadas de omissão e ineficácia do Poder Público em suas tentativas de implantação de políticas urbanas e habitacionais, seguida pela incapacidade dos atuais administradores em constituir e gerenciar políticas públicas visando garantir infraestrutura urbana básica para seus habitantes, mesmo com a criação de novas leis e instrumentos voltados à ordenação do espaço urbano, como por exemplo, o Estatuto da Cidade.
Dentro deste cenário, nos atentaremos para a falta de espaços públicos de lazer nas cidades.
Hoje temos as cidades como espaço de especulação imobiliária, onde os detentores dos meios e do capital organizam, decidem e constroem os espaços das cidades seguindo sempre suas pretensões empresariais e imobiliárias, muitas vezes, com a conivência do Poder Público.
Podemos pensar que a lógica da construção dos espaços de lazer segue a mesma linha: a) grandes investimentos em empreendimentos e condomínios fechados de alto padrão; b) iniciativas equivocadas do Poder Público quanto à revitalização de espaços em áreas centrais; e c) sua omissão, no que diz respeito às áreas periféricas desprovidas de qualquer equipamento de lazer.
a) A iniciativa privada beneficia-se com a falta de espaços públicos seguros de lazer, atraindo consumidores a seus empreendimentos. Observamos esse fato nas propagandas de construtoras promovem a cultura dos "condomínios fechados - ilhas de lazer e segurança para você e sua família", logicamente que a um custo muito alto e dirigido para uma minoria abastada da população.
b) As áreas centrais das grandes cidades abrigam grande parte do comércio informal. Esses espaços acabam marginalizados também pela população de rua que os frequentam dioturnamente.
Este cenário permanecerá inalterado até que tal situação apresente-se insuportável, exigindo uma posição do Poder Público. E essa posição infelizmente é a posição do "prático, rápido e barato", pois em vez de se estudar os motivos da informalidade e da marginalização desses espaços, soluciona-se o problema através da expulsão e promoção de uma falsa revitalização do local, inclusive, com o fechamento de praças com grades.
c) São as áreas periféricas que mais sofrem com a falta de espaços de lazer. A justificativa dada pelos governantes é que essas áreas são ocupadas clandestinamente, e por isso não podem receber melhorias, o que faz com que a própria população local utilize terrenos baldios e beiras de estradas como áreas de lazer.
Observamos que as cidades são organizadas espacialmente para responder a interesses de grupos que obtém vantages particulares com a especulação imobiliária e vemos os governos agindo com conivência quanto a tais empreendimentos e com omissão quanto às questões mais graves como o completo abandono de áreas periféricas.
Enquanto essa postura for mantida e os problemas enfrentados pelas populações de baixa renda não forem tratados alheios a interesses particulares, teremos um quadro cada vez mais grave de segregação socioespacial, que nega a uma enorme parcela da população das cidaes o direito de sair de casa e encontrar um ambiente saudável para seu lazer e de seus familiares.